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Palavra Impressa

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A Palavra Impressa é uma consultoria que oferece auxílio para publicação de textos e livros da área científica e da área social. Adaptamos os trabalhos às necessidades de cada um e de cada editora que publica os textos, num contato próximo com o cliente. Nosso diferencial é o atendimento. Pessoal, caso a caso.

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Ao preparar a tradução de um regulamento para submissão de resumos para um congresso brasileiro, deparamos com o desafio de traduzir a expressão “tema livre”. O médico brasileiro entende bem quando se diz “apresentou o trabalho como um tema livre no congresso”… Mas se fizermos uma tradução literal para “free themes“, qualquer pesquisador falante da língua inglesa do resto do mundo provavelmente não vai entender. Então preferimos usar a expressão “abstract“. Porque, na realidade, o participante submete para o comitê de avaliação do congresso um resumo de seu trabalho e diz se pretende apresentá-lo na forma oral (geralmente terá em torno de cinco minutos para fazer isso) ou na forma de um painel (pôster) impresso ou eletrônico.

Mas de onde veio essa expressão “tema livre”, tão arraigada entre nós, brasileiros? Provavelmente encontraremos resposta na história do desenvolvimento de congressos médicos por aqui (história, aliás, que já editamos e publicamos aqui na Palavra Impressa).

Essa tradição brasileira de chamar a apresentação de “tema livre” vem desde o tempo em que as sociedades médicas tinham meia dúzia de associados, especialistas que se reuniam em algum lugar em “algo” que chamavam de congresso (e que tinha menos de 100 participantes). As sociedades ou associações davam aos “luminares” da especialidade um espaço para falar e eles faziam apresentações demoradas sobre o tema que quisessem — porque eram autoridades máximas na área, então todos queriam ouvir. Traziam relatos de caso, de experiências próprias, falavam por horas. Eram, realmente, temas livres.

Hoje, num congresso reunindo 5 mil pessoas (como por exemplo, o Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia), não se pode mais dar esse mesmo tempo, e nem abrir muito os temas. Os temas, na realidade, não são mais “livres” coisa nenhuma…. São rigorosamente selecionados por um comitê de avaliação que passa semanas revisando todos os resumos submetidos. Então, embora não sejam mais “livres”, os médicos ainda chamam os “resumos” (abstracts) de temas livres aqui nas nossas terras tupiniquins.

Clique aqui: 40 Congressos Brasileiros de Ortopedia e Traumatologia

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Tudo depende da origem do nome.

O macaco-rhesus ou simplesmente reso, por exemplo, é uma raça do macaco Macaca mulatta. Portanto, o itálico não é necessário em rhesus (somente no nome da espécie). Encontramos também a grafia com letra maiúscula, por Rhesus ser o nome do rei Rhesus, da Trácia, na mitologia grega. Porém, usando-se o nome popular em português, com hífen, macaco-rhesus ou macaco-reso, não é preciso itálico nem maiúscula.

Wistar é uma cepa de ratos criada no laboratório Wistar Institute. Também não é nome de espécie, portanto não vai em itálico, mas vai em maiúscula por ser o sobrenome do fundador do instituto.

Sprague-Dawley também é uma raça de ratos de laboratório (portanto também sem itálico), criada por pela Sprague-Dawley Company a partir da raça Wistar. Os nomes das empresas (que por sinal são os nomes próprios de seus fundadores) vão em maiúsculas, portanto o nome do rato também. O mesmo ocorre com rato Long-Evans.

Há outras cobaias: hamster vai em minúsculas, mas em itálico (palavra estrangeira).
Então, na dúvida, procure saber de onde vieram os nomes dos bichos (ou não bichos!) sobre os quais vocês estão escrevendo. Até a Wikipedia ajuda nisso!

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“Antes do paciente tomar o medicamento” ou
“Antes de o paciente tomar o medicamento”?

“A suplementação com ácido fólico não diminuiu o risco da gestante ter anemia” ou
“A suplementação com ácido fólico não diminuiu o risco de a gestante ter anemia”?

Aqui vai a resposta:

“De” é uma preposição e “a” ou “o” são artigos. Certo?

Não se faz a contração da preposição com o artigo (“de + a = da”) quando esse artigo é parte do sujeito de uma frase.

Em palavras mais fáceis: se aquele elemento a que se refere o artigo (nos casos acima a mulher, o paciente) fizer uma ação na frase (tomar o medicamento, ter anemia, recrutar, estudar, incluir…), então não podemos contrair “de” com “o” ou com “a”.

Se “o” ou “a” ou “esse” ou “isso” ou “aquele” fizerem alguma coisa, não contraia!

Essas regras são “chatas”, mas precisamos entender.

Alguns exemplos corretos para memorizar:

Apesar de os estudos serem de longo prazo…
Depois de os pacientes terem sido recrutados…
O fato de o cirurgião precisar operar com urgência…
Apesar de aqueles fatores terem influenciado…
Depois de esses estudos terem sido excluídos…

(Por outro lado, ficam contraídos quando não estiverem exercendo ação:
Esses foram os efeitos do estudo.
Regras de gramática filhas da mãe…!)

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Que palavrão, hein? Em tempos de “lava a jato”, estamos mais acostumados com palavrões como “constitucionalmente”…

Voltando ao foco. As palavras proparoxítonas têm a sílaba tônica (aquela em que a gente coloca mais ênfase na hora de falar) na antepenúltima sílaba. Que coisa mais chata! Por que tenho que calcular isso?

Simples: porque há uma regra de ortografia que não muda nunca em português — sai reforma, entra reforma, e ela continua lá. Todas as proparoxítonas, todas mesmo, são acentuadas. Está aí uma regra fácil, que não deixa dúvida. Todas as proparoxítonas levam acento.

Onde? Ora, pois, na sílaba tônica, na sílaba forte. Olhem uma aqui: sílaba! Sílaba é uma proparoxítona, porque nós pronunciamos sííííílaba (e não silááába nem silabááááa!). A última sílaba da palavra sílaba é o “ba”. A penúltima é o “la”. Antes dela vem o “sí”, portanto antepenúltima (três pra cá!), e forte. Tônica.

Aqui vão alguns exemplos de proparoxítonas com as quais vocês se deparam nos seus textos científicos — e que são pegas em flagrante sem acentos com certa frequência, devo dizer. Vejam que nem todas são palavrões enormes e muitas fazem parte do seu dia a dia.

Não se esqueçam dos acentinhos agudos e circunflexos nelas:

– clínico (ensaios clínicos randomizados! Mas não acentuem clinicamente, por favor, porque aqui a tônica está no “men”!)
– químico/química (mas não acentuem quimicamente!)
– acadêmico (academicamente não… entenderam, né?)
– categórico (categoricamente)
– genérico (genericamente)
– empírico (…)
– calórico, hemorrágico, diagnóstico, isotônico, hierárquico, cadavérico (estes não têm mentes)
– dermatológico, etiológico, imunológico e todos os lógicos e lógicas
– bioética, ética, fonética, todas as éticas.
– autossômico, cromossômico, dicotômico e todos os ômicos, ômicas etc.
– mecânica
– hemodiálise (ou só diálise)
– plasmaférese e aférese
– milímetro
– osteófito
– alérgico
– hipótese
– número
– cirúrgico
– espécime
– glóbulo
– exógeno
– fármaco
– transgênero
– parâmetro
– metanálise

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Acabamos de retornar da Coreia, onde participamos do Colóquio da Cochrane, uma instituição devotada à produção evidências de qualidade para a tomada de decisões em saúde. A Cochrane produz revisões sistemáticas da literatura médica, e alerta: mais de 40% dos dados produzidos por pesquisas no mundo todo na área de saúde simplesmente não são publicados.

Essa enorme quantidade de dados fica engavetada por vários motivos: dificuldade dos autores de escrever e publicar os artigos, barreiras de língua, falta de exigência ou de monitoramento por parte dos organismos que financiam a pesquisa, falta de apoio para a publicação… para desespero dos autores de revisões sistemáticas, que ficam sem matéria-prima para trabalhar. Os artigos não publicados são um grande ponto de interrogação para os autores das revisões. A Cochrane tem discutido em profundidade esses temas.

As revisões sistemáticas e as metanálises produzem sínteses que ajudam as pessoas, seus médicos e os gestores em saúde a tomar decisões sobre procedimentos como novos métodos de tratamento, prevenção ou diagnósticos. O que é que realmente funciona? Só que, se os dados não são publicados em artigos, como revisá-los? Talvez a tendência de realizar metanálises de dados de participantes individualmente (IPD) seja uma luz no fim do túnel.

Os dados individuais só podem ser revisados e incluídos nas metanálises se forem publicados em bases de dados públicas. Isso significa que, cada vez mais, as revistas e as instituições de fomento de pesquisas em saúde vão passar a exigir (e algumas já estão exigindo, como por exemplo a revista PLOs) que os autores publiquem os dados individuais de seus pacientes (claro que com identificações ocultas) em bases de dados públicas. Assim, outros pesquisadores, no mundo, podem acessar essas informações para realizar análises adicionais, mesmo antes da publicação dos artigos em forma de texto.

Os autores precisam estar atentos a essa tendência: manter bancos de dados (planilhas) formatados adequadamente e publicar esses dados em bases eletrônicas, que já estão disponíveis, é uma forma de demonstrar transparência e postura colaborativa. Quando e se a revista exigir, os dados já estão lá, prontos para qualquer escrutínio.

Essa tendência se segue à exigência, também cada vez maior, de registros de estudos clínicos a serem iniciados ou em andamento em bases como clinicaltrials.gov ou o brasileiro ReBEC (Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos). Já não é mais possível publicar um artigo sobre um estudo clínico sem ter antes registrado o estudo. Após a publicação do artigo científico, o autor deve também registrar os resultados na mesma base onde registrou o protocolo do estudo.

Estamos atentos a isso e temos recomendado, a nossos clientes, que façam esses registros (de protocolos ensaios clínicos e de dados individuais dos pacientes). A cultura será difícil de mudar, e teremos de nos acostumar… Caso contrário, a dificuldade de publicar vai ser cada vez maior.

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Às vezes não está errado, mas dá para melhorar!

Vejam a diferença:

“Três estudos foram classificados como tendo um baixo risco de viés (ou seja, tinham uma boa qualidade metodológica), um estudo foi classificado como tendo um risco de viés incerto e outros dois como tendo um alto risco de viés (qualidade metodológica ruim).”

Eliminamos todas as ocorrências de palavras “um” e “uma” que não fariam a menor falta no texto. Vejam como fica:

“Três estudos foram classificados como tendo baixo risco de viés (ou seja, tinham boa qualidade metodológica), um estudo foi classificado como tendo risco de viés incerto e outros dois como tendo alto risco de viés (qualidade metodológica ruim).”

Eliminamos quatro “um” e “uma” e o texto ficou mais conciso e fácil de ler. Até porque os únicos numerais que sobraram no texto dizem respeito, de fato, ao número de estudos incluídos. Assim, o leitor não precisa fazer “ginástica mental” para entender se foram “um ou dois baixos riscos de viés” e se foram “um ou dois estudos”… O risco de viés é baixo, sem precisarmos da palavra “um” antes dele!

Faxina nos um/uma!!!

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O que determina o sexo e o que determina o gênero?

A onda do “politicamente correto” tem feito com que vários pesquisadores escrevam frases como: “maior incidência de hipertensão arterial em pessoas do gênero feminino”. Será que o uso do termo está o mais adequado neste caso? Não seria melhor dizer “maior incidência de hipertensão arterial em pessoas do sexo feminino”?

O DSM-V* preconiza o uso das palavras sexo e sexual como se referindo aos indicadores biológicos de masculino ou feminino: órgãos sexuais, genitália, hormônios, cromossomos, todas coisas que indicam o sexo masculino ou feminino. Esses indicadores sexuais são os que predispõem as pessoas a estas ou aquelas doenças, a estes ou aqueles eventos mórbidos.

O termo gênero, por outro lado, é utilizado para denotar o papel público desempenhado (inclusive juridicamente reconhecido) pela pessoa como homem, menino, mulher, menina. Então o gênero é uma designação social, mas o sexo é predito biologicamente.

Em se tratando de doenças ou eventos físicos, como a incidência de fraturas osteoporóticas, de problemas cardiológicos, de anomalias congênitas (ou cromossômicas) que aparecem clinicamente com predominância em um sexo, está claro que o que importa é o sexo biológico e não o o papel desempenhado na sociedade pela pessoa. Assim, nesses casos, é mais adequado o uso do termo “sexo masculino”/“sexo feminino”. A esclerose múltipla, as doenças cardiovasculares, a doença de Alzheimer, o câncer de mama afetam mais pessoas do sexo feminino do que do sexo masculino.

Claro que, em estudos da área social, psicológica/psiquiátrica ou nos estudos em que se está verificando o papel de aspectos sociais no desfecho analisado, aí sim, vale a pena usar o termo “gênero” para se referir às pessoas, quando a diferenciação for relevante. Por exemplo, o gênero feminino é o mais afetado pela violência doméstica (e aqui estão incluídos os transgêneros), e, classicamente, o uso de serviços de saúde é mais frequente entre pessoas do gênero feminino.

Mas quando se estiver avaliando desfechos biológicos, parece razoável usar a palavra “sexo”.

[Claro que existem pessoas que nascem com uma designação sexual (nasceu com genitália do sexo masculino, por exemplo) mas sofrem de disforia de gênero (aqui sim, a designação social do sexo), e por isso fazem tratamentos para mudança de sexo (cirurgias, hormonioterapia etc.). Em textos sobre esses assuntos, provavelmente o uso da palavra gênero seja muito mais adequado.]

Então resumindo:
sexo feminino ou masculino = designação biológica; use este termo preferencialmente;
gênero feminino ou masculino = designação social, comportamental; use este termo somente ao se referir ao papel público da pessoa.

* (Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais)

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Pílula de português. Maioria.

A maioria dos pacientes é, faz, sente, percebe, pergunta.
Os pacientes, na maioria, são, fazem, sentem, percebem, perguntam.

A maioria dos estudos era de péssima qualidade.
Os estudos, na maioria, eram de péssima qualidade.

Embora a maioria dos pacientes consiga controlar a doença, seus familiares, na maioria, ainda sofrerão com o fardo de cuidar deles.

A maioria é. No singular. Sempre. Mas as pessoas, na maioria, erram.

Percebem a diferença?

Os erros, na maioria, acontecem. Porque não ficamos, na maioria, atentos ao sujeito da frase.

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Temos procurado, sempre que possível, evitar a voz passiva nos textos da Cochrane, principalmente nos resumos para leigos. Isso porque é muito mais fácil e rápido compreender “selecionamos os estudos que tivessem amostra adequada” do que “foram selecionados os estudos….”. Mas… às vezes é inevitável usar a voz passiva, principalmente quando o sujeito da frase não é definido. Só que o uso do plural nessa situação tem gerado um erro recorrente.

Se eu tenho mais de uma casa para alugar, a placa deve dizer
*“Alugam-se *casas”.
Se vários remédios são fornecidos para a população,
*“Tomam-se* vários medicamentos”.

Vejam alguns outros exemplos de uso correto da voz passiva:

– Recrutam-se mulheres para estudo clínico sobre cólicas.
– O estudo alertou sobre os risco de se tomarem os suplementos sem necessidade.
– Reuniram-se os resultados de todos os estudos numa metanálise.
– Alugam-se casas, vendem-se salas, dividem-se quartos.

Para verem como o erro é frequente… vejam as placas abaixo. Quais delas estão certas e erradas?

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Um dos temas mais complicados, discutidos, contestados e criticados da Nova Norma (agora já está velha!!) Ortográfica é justamente o emprego do hífen.

Em vez de atormentá-los com os mesmos e numerosos dilemas que provocam insônia aos linguistas, prefiro só relembrar, marcar, enfatizar: antes de 2009, usávamos o hífen depois de “não” quando queríamos compor uma nova palavra com sentido negativo. Escrevíamos “não-verbal”, “não-governamental“, e mesmo antes de substantivos, como “não-fumante” etc., certo?

Pois a Nova Norma Ortográfica, que está plenamente em vigor desde janeiro de 2016, ordena que, agora, não usamos mais hífen depois do não.

Portanto, queridos, vamos escrever:

não fatal

não significante

não cirúrgico

não supurativo

não hormonal

… e assim por diante. Sem hífen depois do não. OK?