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MBE

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Esta pergunta “o que faz um medical writer” aparece geralmente depois desta outra: “qual é a sua profissão?” 

A área de atuação profissional como “medical writer” ainda é bem pouco conhecida no Brasil — tanto que nem uma tradução adequada apareceu até agora. Mas considerando que a publicação científica na área biomédica é feita na língua inglesa, principalmente, isso não surpreende e nem é urgente.

Para quem quer compreender melhor algumas das coisas que um medical writer pode fazer por um pesquisador, uma equipe de pesquisadores, uma instituição de pesquisa ou uma empresa, a primeira observação a fazer é: um medical writer não é um tradutor. O medical writer também faz traduções, mas esse não é o seu negócio principal, ou o principal serviço que pode prestar à comunidade científica. Um medical writer, como o próprio nome diz, é um escritor, um editor de textos, alguém especializado na área científica de saúde, e não somente um tradutor de textos já produzidos por outrem. (E é por isso que o medical writer não compete com o tradutor pelo mercado, nem por preço nem por competência: são áreas diferentes de atuação).

A profissão nasceu principalmente nos Estados Unidos e Europa para apoiar a indústria farmacêutica na redação de documentos regulatórios, ou seja, textos que essas empresas precisam submeter a agências que estabelecem as normas de segurança e aprovação de tecnologias em saúde. No Brasil, por exemplo, temos a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde, além do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). O medical writer conhece todas as regras e meandros das normas e regulações para poder preencher formulários e escrever relatórios claros que resultem em aprovações de produtos. A realização de estudos clínicos pela indústria inicia com o registro dessas iniciativas em bases de dados especializadas, e o medical writer é contratado para auxiliar nesse processo. Sim, fazemos registro de clinical trials.

No entanto, ao longo dos anos, a atuação do medical writer se ampliou bastante. Hoje, esse profissional continua atuando na redação de projetos de estudo, protocolos metodológicos (para comitês de ética, agências de fomento e outras organizações), mas também tem grande participação na redação ou edição de artigos científicos. O medical writer pode trabalhar na redação desses manuscritos, que são submetidos para publicação em revistas científicas, cuidando do formato, clareza da exposição de ideias, qualidade do texto e atenção às normas de cada periódico. Pode, e deve, cuidar de adequar esses textos às melhores diretrizes da área, os roteiros para redação de artigos científicos. E deve ficar atento ao desenvolvimento de novas normas éticas na área de publicações científicas da área biomédica, para melhor orientar e atender seus clientes, impedindo-os de incorrer em alguma falha no atendimento de requisitos.

Além dos artigos científicos para publicação em periódicos, o medical writer também pode ajudar os pesquisadores a montar aulas (slides) mais claras, diretas e bem formatadas para seus alunos e colegas. O medical writer é um profissional de comunicação que vai adequar cada apresentação ao público a que ela se destina. Quando se trata de um congresso médico, por exemplo, o medical writer pode ajudar muito na redação e correção do resumo que é submetido para avaliação. E dentro da academia, também pode auxiliar na revisão de texto de teses e dissertações, sempre cuidando do limite ético de não interferir na criação da peça nestes casos, pois o aluno está sob avaliação.

As empresas e associações ou organizações não governamentais se beneficiam do serviço prestado pelo medical writer quando este profissional participa da concepção, redação e organização de websites, destinados a profissionais ou a pacientes. Uma possibilidade de atuação é a adequação para avaliação em organismos acreditadores como o HonCode ou simplesmente a realização de avaliações de qualidade, usando o DISCERN, por exemplo. Panfletos e outros materiais destinados a pacientes ou membros da comunidade (como cuidadores) e para a imprensa orientando sobre questões de saúde precisam ser claros e adequados ao nível educacional e alfabetismo em saúde da população. O medical writer deve usar de competências como comunicador em ciência para disseminar essas informações corretamente (o que envolve interpretar a ciência corretamente também).

A formação necessária para atuar nessa área envolve alguma atuação em pesquisa na área biomédica: mestrado ou doutorado. A experiência em pesquisa é imprescindível porque o medical writer precisa ser capaz de compreender o raciocínio clínico e o raciocínio científico: da anamnese e exame físico ao diagnóstico e tratamento, da questão em pesquisa à elaboração de hipóteses, metodologia e análise de resultados. Se o editor de texto não tem familiaridade com esses passos e a importância de cada um, não é capaz de identificar falhas, lacunas de informação e mesmo erros que podem impedir a publicação de uma pesquisa. Conhecimento de medicina baseada em evidências também é um diferencial.

O medical writer não é simplesmente um profissional de texto (um “corretor de português” ou “tradutor de inglês”): o texto (com suas regras gramaticais e ortográficas) é um de seus instrumentos de trabalho, apenas um. O medical writer trabalha na construção de textos e outros materiais que exponham de forma correta, clara e concisa o processo e o resultado de uma pesquisa biomédica. Nós da Palavra Impressa não atuamos somente como “tradutores” (e muitas vezes contratamos parceiros para fazer traduções) ou como “revisores de texto”: fazemos um pouquinho mais. 

Nós da Palavra Impressa (principalmente Patricia Logullo) atuamos na área de medical writing no Brasil há mais de 20 anos. Sempre nos preocupamos em nos atualizar e qualificar continuamente e hoje atuamos em Oxford com “meta-pesquisa” (ou pesquisa sobre a qualidade das publicações em saúde) e, a distância, com medical writing para a comunidade do Brasil. Somos membros da Oxford-Brazil EBM Alliance e da EMWA (European Medical Writers Association). Neste blog post anterior, falamos um pouco de um dia típico de trabalho, em que pudemos expor a variedade de coisas que podemos fazer para ajudar você a publicar.

Neste link se pode ler a posição conjunta das associações norte-americana (AMWA) e europeia (EMWA) de medical writers e da Sociedade Internacional de Profissionais em Publicações Médicas (ISMPP) sobre o papel dos medical writers, suas responsabilidades e as dos autores que os contratam.