Pílula de Português sob encomenda. Ou melhor: sob inspiração da piadinha enviada ontem.
Infarto? Enfarto? Enfartar? Infartar? Qual o correto?
A Academia Brasileira de Letras (ABL) é bem aberta: aceita quatro grafias para o substantivo:
infarto
infarte
enfarto
enfarte.
… e ainda os dois verbos são aceitos:
enfartar
infartar.
Houaiss e Aurélio reconhecem infarto e enfarte como sinônimos um do outro.
Houaiss reconhece enfartar/enfarte, mas coloca as definições (de necrose etc.) nos verbetes infartar/infarto.
O bom e velho Aurélio diz que “enfartar” é “sofrer ou ter um infarto”!! E também aceita enfarto, mas não “infarte”.
(Lembrando que a edição do Aurélio é mais antiga que a do Dicionário da ABL).
O Stedman prefere infarto (não lista enfarte).
A palavra com e, enfarte, além do significado da necrose do tecido, também tem o sentido de empanturrar, encher, inchar. Sua origem é essa. Portanto, para falar de infarto do miocárdio ou cerebral (precisamente o oposto de preencher ou encher!), é melhor usar infarto, no sentido de lesão necrótica por hemorragia ou isquemia.
Os dicionários em geral, portanto, aceitam que se escreva de várias maneiras, mas o fato de colocarem os significados sempre junto ao verbete “infarto” nos sugere que esta é a grafia preferida ou mais utilizada no Brasil. O Google nos confirma isso: 41.500.000 documentos com “infarto” e apenas 403.000 com “enfarte”.
Os dicionários portugueses, por sua vez, preferem o enfarte, com e.
Moral da história: não é crime escrever infarte, enfarto… mas infarto e enfarte são mais usados e aceitos e, nos documentos científicos da área de saúde, quando se referindo a necrose do tecido (e não a empanturramento), convém preferir infarto nas nossas terras brasileiras.