Tiroide ou tireoide?

Tiroide ou tireoide?

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Direto do aeroporto, a caminho de São Paulo (na volta da Equator Publication School), escrevi mais uma Pílula de Português.

Tiroide ou tireoide?

Joffre Marcondes de Rezende nos ensina que a palavra pode ser oriunda de dois vocábulos gregos: “thyreoeides”, “no formato de escudo”, ou de “thyreós”, que quer dizer “no formato de uma porta”. Se pensarmos que um escudo pode ter (e, de fato, muitas vezes tinha) formato de porta, a etimologia não nos ajuda muito…! ?

O Caldas Aulete, dicionário português, deriva a tiroide da porta, não do escudo (daí a grafia “tiroide”). Só a partir do século XIX é que passou a aparecer a forma “tireoide” com mais frequência nos livros portugueses, atribuindo a origem ao escudo, não à porta… Isso ficou comum nos livros franceses, e por isso os médicos brasileiros começaram a adotar a forma “tireoide”. Mas, em 1930, a Academia Brasileira de Letras (ABL) aprovou a forma tiroide, sem o e, mesmo sob crítica de médicos ilustres da época. Hoje, a ABL aprova ambas formas. A Nomina Anatomica iniciou escrevendo tireoide. Depois, na década de 1960, mudou para tiroide. Mais recentemente, temos os Decs, da Bireme, nos influenciando a escrever tireoide. Aparentemente, a tendência internacional é aceitar a raiz “da porta” e não “do escudo”, e escrever tiroide. Vai ver que é porque, aqui no Brasil, tendemos a usar mais portas que escudos. Que assim seja!

Resumo da ópera: são aceitas ambas as formas, mas para maior “homogeneidade” com a literatura internacional e para privilegiar o simples e o curto, recomendo o uso de “tiroide” preferencialmente. Usem os dois, mas prefiram tiroide: mais simples, mais curto, mais internacional, mais porta que escudo.

[Rezende, JM. À sombra do plátano. Crônicas de história da medicina. São Paulo: Editora Unifesp, 2009.]

Patricia Logullo
Patricia Logullo é doutora e meta-pesquisadora no Centre for Statistics in Medicine (CSM) na University of Oxford, Reino Unido e medical writer certificada pela International Society of Medical Publication Professionals (ISMPP). Além do Doutorado em Saúde Baseada em Evidências (pela UNIFESP), também é mestre em Ciências da Saúde (pela FMUSP) e Jornalista Científica (pela UNICAMP).

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