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Patricia Logullo

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Patricia Logullo é doutora e meta-pesquisadora no Centre for Statistics in Medicine (CSM) na University of Oxford, Reino Unido e medical writer certificada pela International Society of Medical Publication Professionals (ISMPP). Além do Doutorado em Saúde Baseada em Evidências (pela UNIFESP), também é mestre em Ciências da Saúde (pela FMUSP) e Jornalista Científica (pela UNICAMP).

Cliente da Palavra Impressa recebeu dois prêmios internacionais pela publicação de dois estudos clínicos randomizados

Quando um cliente da Palavra Impressa recebe um prêmio por artigo científico publicado, a gente também comemora. Afinal, compartilhamos as preocupações, o trabalho duro e o empenho em ir um pouco além da média e entregar um produto final de qualidade. Quando um mesmo cliente recebe dois prêmios por dois trabalhos diferentes, fica claro que ele está no caminho certo, produzindo bons estudos e se interessando em publicar de forma transparente.

Em 2022, O Dr. João Alberto Maradei-Pereira, nosso antigo cliente, recebeu o prêmio de melhor artigo publicado no ano (em 2021) pelo The Journal of Hand Surgery, reportando um estudo clínico randomizado em cirurgia da mão. Agora, um ano depois, recebeu outro prêmio por outro estudo clínico em cirurgia do joelho, agora pela International Society of Arthroscopy, Knee Surgery & Orthopaedic Sports Medicine (ISAKOS) — Isto depois de ter tido o mesmo trabalho reconhecido como melhor Tema Livre no Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia (CBOT) em 2022.

Medicina, ciência e transparência

Dr. Maradei luta para oferecer aos seus pacientes em Belém do Pará cirurgia e atendimento de qualidade em hospital do Sistema Único de Saúde (SUS). Nós gostamos de acompanhar nossos clientes durante todo o processo de produção e relato das pesquisas, conforme já relatamos aqui, e esse contato próximo nos ajuda a compreender as peculiaridades de cada serviço, de cada rotina, de cada equipe. Isso nos permite estimular os clientes a não esconder nada e a ser transparentes no relato do que fazem, como fazem, e quais os resultados que obtêm, positivos e negativos. Reportar a limitação dos estudos ajuda outros pesquisadores, no mundo todo, a evitar os mesmos percalços.  

Não satisfeito em ter conduzido e publicado um estudo clínico randomizado na Amazônia, o Dr. Maradei resolveu estudar mais e realizar o segundo. Desta vez, como parte de seu doutorado, ele avaliou duas formas de profilaxia da trombose venosa profunda após cirurgia de joelho. O processo de publicação, neste caso, foi complicado porque as revistas norte-americanas estavam resistentes em publicar um estudo em que não foi usada aspirina, a intervenção preferida nos Estados Unidos. Nós ajudamos o autor a argumentar, explicando que as modalidades utilizadas na pesquisa amazônica são apoiadas por diretrizes internacionais, e que o estudo foi realizado com metodologia robusta. Todos os detalhes questionados pelos revisores foram sendo incorporados ao texto, o que melhorou sua transparência e qualidade. Após várias interações com as revistas, conseguimos a publicação e o prêmio veio em seguida, entregue pessoalmente no congresso internacional realizado em Boston, em junho de 2023.

“A ajuda que a Patrícia tem me dado nos últimos anos foi decisiva para meu engajamento maior nas pesquisas e para a chama da curiosidade científica genuína. Ensina não só a redigir melhor, mas a pensar e ter ideias novas de como responder a perguntas que surgem diariamente no centro cirúrgico. Difícil encontrar profissionais dessa qualidade. Impossível não recomendar.”

João Alberto Maradei-Pereira

Primeiro prêmio: The Journal of Hand Surgery

O manuscrito premiado pelo The Journal of Hand Surgery, que editamos na Palavra Impressa, reportava a realização de um estudo clínico randomizado comparando dois tipos de fixação na cirurgia de fratura do rádio distal. A revista declara que “reconhece a importância científica, o excelente rigor do estudo e o alto padrão acadêmico na preparação para publicação” do artigo, e que o prêmio é um “agradecimento aos autores por sua contribuição ao Journal e à cirurgia da mão em todo o mundo”. O estudo escancarou para o mundo as dificuldades de se cuidar do paciente cirúrgico em localizações geográficas que impossibilitam o controle da aderência do paciente a recomendações no pós-operatório. O risco de infecção é alto nessa situação.

Segundo prêmio: ISAKOS

O congresso da ISAKOS premia as pesquisas de destaque que contribuem para a compreensão da artroplastia do joelho. O manuscrito enviado é avaliado segundo critérios de clareza da escrita e qualidade científica e o vencedor recebe a inscrição no congresso e mais 3 mil dólares como prêmio. O estudo premiado mostrou que a profilaxia mecânica da trombose, comparada com a farmacológica (com enoxaparina) resulta em menor perda de sangue e edema da perna operada. Como se não bastasse esses dois benefícios, o paciente pode ir para casa com o aparelho de massagem na perna, mostrando que a intervenção é viável mesmo em regiões de difícil acesso como a amazônica. O estudo foi submetido para a BMC Musculoskeletal Disorders em agosto, aceito em outubro e publicado em novembro de 2022 e a versão online está disponível, aberta. Já foi acessado mais de 1100 vezes, e compartilhado na imprensa paraense.

O certificado prova de que temos expertise, proficiência, comprometimento ético e liderança necessária para excelência em publicações científicas da área de saúde.

A Palavra Impressa tem a satisfação de anunciar que Patricia Logullo recebeu a certificação oferecida pela ISMPP (International Society for Medical Publication Professionals): o CMPP (Certified Medical Publication Professional).

A certificação vem após muitos anos de atuação de acordo com os bons princípios estabelecidos pela ISMPP. É um reconhecimento oficial da nossa prática profissional, e mostra que trabalhamos há décadas de acordo com os seguintes os pontos descritos no documento conhecido como GPP3 (Good Publication Practice for Communicating Company-Sponsored Medical Research):

Qualidade — assegurando que os artigos fossem escritos de forma completa — porém aqui não somente os estudos clínicos randomizados, mas todos os tipos de estudos, sendo a maioria observacionais. Acreditamos que todo tipo de estudo requer descrição completa e transparente de todos os métodos e resultados. Nossa experiência com roteiros para redação de artigos científicos ajuda neste ponto!

Normas e regulações — verificando o adequado cumprimento de leis e normas brasileiras aplicáveis (por exemplo, aprovação pela ANVISA, comitês de ética) e a melhores recomendações para publicações disponíveis, como os roteiros para redação de artigos científicos (reporting guidelines) e recomendações do ICMJE e COPE.

Instruções e regras — assegurando o cumprimento das normas e formatos exigidos por revistas e conferências.

Autoria — verificando e promovendo práticas adequadas de autoria, coletando dos autores uma descrição detalhada dos papéis e contribuições dos autores para assegurar o cumprimento das normas atuais de autoria e fornecer descrição acurada nos artigos; checando se todos os co-autores tiveram acesso a protocolos e materiais (e à versão final do documento) antes de confirmar autoria; relembrando os autores de que todos os co-autores têm responsabilidade sobre os achados reportados no artigo; trabalhando para que pessoas que tenham contribuído com o trabalho mas não se enquadram nos critérios de autoria recebam adequado reconhecimento (em seção de agradecimentos ou afins).

Planejamento — planejando e ajudando a planejar as publicações; incluindo o artigo mas também apresentações em conferências, publicação de protocolos e registros, resumos em linguagem simples e divulgação.

Apoio, financiamento e conflitos — descrevendo adequadamente o papel da instituição apoiadora (por exemplo, universidade, instituto de pesquisa, empresa) do estudo e/ou financiadores da pesquisa e garantindo a divulgação do envolvimento de pessoas ou organizações que tenham conflitos de interesse com o trabalho.

Além dos pontos acima, recomendados pela ISMPP, também estivemos, nos últimos 25 anos, envolvidos em trabalhos em que pudemos:

1) Ajudando as revistas médicas — assistindo editores de revistas científicas no adequado escrutínio dos textos, do trabalho dos revisores e pessoal para cumprimento das normas atuais de publicações científicas, e na redação de instruções para autores claras e completas

2) Orientando pesquisadores fora da indústria farmacêutica — auxiliar autores de estudos envolvendo intervenções não farmacológicas (fisioterapia, psicoterapia e outras) a descreverem detalhadamente seus procedimentos de forma que outros profissionais (clínicos, pesquisadores e usuários) possam compreender exatamente no que eles consistem

3) Trabalhando na redação de protocolos — para submissão a comitês de ética ou para publicação como artigos — de forma completa e acurada, levando em consideração aspectos éticos e de administração geral do projeto (por exemplo, o que é possível perante as circunstâncias e recursos disponíveis).

O exame

O exame para obtenção do CMPP contém 150 questões de múltipla escolha, e é realizado em ambiente de alta segurança. Não é permitido uso de celular, smart watch ou anotações, nem consulta na internet. Os resultados são avaliados de acordo com a teoria de resposta ao item.

A certificação obtida vale por cinco anos mas requer atualização (em cursos e workshops) para revalidação, o que nos obriga a nos manter em dia com novas normas disponíveis.

Agradecemos a confiança dos nossos clientes que, desde 1999, têm contado com a nossa colaboração e indicado nossos serviços para colegas (nossos novos clientes sempre chegam por recomendação, pois não fazemos propaganda) — especialmente os pesquisadores e instituições que mantêm contratos contínuos há vários anos.

“Earners of the Certified Medical Publication Professional™ credential have demonstrated proficiency in all aspects of good publication practice in the field of medical publications related to pharmaceutical, biotechnology, and medical device research. They are knowledgeable of best practices in developing and implementing a publication plan, and uphold and understand how to foster ethical and compliant behaviors in publication planning.”

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GPP3 = Good Publication Practice 3 guideline; ICMJE = International Committee of Medical Journal Editors.

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Ao longo de muitos anos de edição de textos e de relacionamento com clientes — alguns que permanecem, outros que se vão — é muito gratificante perceber que a nossa atuação profissional não é simplesmente a de prestação de serviços “para”, mas cada vez mais “com”. Editamos com os clientes, não somente para eles.

Isso acontece porque sempre tivemos a postura de informar aos nossos clientes, ponto a ponto, o motivo de nossas ações, justificando e explicando cada uma das decisões, pequenas ou grandes. Qual a regra gramatical que indica a retirada de uma vírgula da frase, ou o uso de letra maiúscula. Por que um parágrafo ou capítulo inteiro deveria vir antes de outro. Pequenas explicações que mostram ao cliente as decisões são embasadas e aumentam a sensação de confiança. O texto pode seguir carregado de comentários, mas eles são úteis para a tomada de decisão em conjunto e também como uma forma de capacitação informal.

Alguns clientes nos procuraram para fornecimento de capacitação ou treinamento formal em redação ou edição de texto, o que fizemos com grande gosto. Mas a grande maioria tende a nos procurar para serviços que nós prestamos “a eles”, individualmente ou em times, na edição de texto. Ainda que esperem simplesmente correções, o que recebem é um pouco mais.

A qualidade dos originais que recebemos para trabalhar varia muito, o que faz com que o nível de intervenção em cada texto também varie, de uma simples revisão gramatical até a reestruturação ou edição completa de textos. O curioso e gratificante é ver o crescimento pessoal dos clientes a cada texto produzido em sequência.

A cada artigo científico que recebemos de um mesmo cliente, vemos que a estrutura e a clareza de exposição de ideias melhora — o que nos dá espaço e tempo para ir mais fundo em questões metodológicas e de conteúdo. A cada capítulo de teses e dissertações, quando trabalhadas aos poucos, vemos que os erros mais comuns são corrigidos e que os textos chegam mais “limpos”. O autor vai aprendendo a comunicar de forma mais eficiente e correta.

Essas interações favorecem reflexões e tomada de responsabilidade sobre o formato dos textos: apresentamos as regras, algumas mais rígidas outras mais embasadas no uso comum, e convidamos o cliente a tomar uma decisão (corajosa) a respeito delas. A opção por uma ou outra forma sempre é uma renúncia, e esta precisa ser esclarecida. Amadurecer como autor é tomar essas decisões de forma consciente.

É por essas e outras razões que tomamos a decisão, algum tempo atrás, de não trabalhar em “simples traduções” (inglês-português e vice-versa) sem edição de texto e “simples revisões gramaticais”. Esse tipo de trabalho, que respeitamos, não dá a liberdade para a interação humana e aprendizado mútuo que a edição de textos junto com o cliente proporciona, e que é, para nós, muito mais prazeirosa e produtiva para todos.

Alguns podem argumentar que esta não seria uma decisão empresarial sustentável, na medida em que os clientes aprendem a fazer por si mesmos e abandonam a necessidade de nos contratar. Nós estamos confidentes, no entanto, de que é o contrário. O que temos visto é que, primeiro, os clientes passam a ter mais confiança em nosso trabalho, o que representa indicação para outros clientes. Sempre existe demanda.

Além disso, em suas atuações acadêmicas, esses clientes fiéis evoluem para serem orientadores e professores e encaminham seus orientando e alunos para nossa consultoria. Melhora a vida deles e a dos alunos.

Segundo, eles passam a entregar textos de melhor qualidade para nossa revisão, o que reduz a carga e permite atuações mais aprofundadas e produtivas. Num texto cheio de pequenas correções de digitação ou gramaticais, não é possível fazer questionamentos mais aprofundados.

Por fim, ainda que a quantidade de trabalho reduza, a fidelidade aumenta, e temos clientes trabalhando conosco de forma contínua há 15 anos.

O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), elaborado pela Academia Brasileira de Letras (ABL), é uma fonte útil e prática para verificação da grafia correta e da adoção das palavras na língua portuguesa. O VOLP está disponível na internet e é constantemente atualizado pela ABL, inclusive para a incorporação, no português, de palavras que antigamente só eram disponíveis em inglês ou outras línguas. O uso frequente e constante leva ao reconhecimento oficial. Porém, o emprego de palavras estrangeiras em textos em português faz com que precisemos indicar essa “usurpação” marcando as palavras em itálico.

Uma nova seção no VOLP indica especialmente as palavras que foram recentemente adotadas: “Novas Palavras”.

Alguns exemplos:

– home office
– compliance
– coworking
– lockdown
– podcast
– streaming
– umami

Estas são algumas palavras e expressões de outras línguas que a ABL reconhece como estando em uso no Brasil. Isso nos faria pensar que não precisamos mais marcar em itálico em textos em português, porque elas foram oficialmente adotadas, no seu formato original, pelo VOLP. Porém, não é o que recomenda a própria ABL em consulta que direta que realizamos recentemente (em 28/07/2022). A Academia recomenda que essas palavras, mesmo tendo sido reconhecidas, devem continuar a ser grafadas em itálico em textos em português.

Outras palavras que foram “aportuguesadas”, ou seja, têm origem em outras línguas mas foram modificadas para uso em português (portanto, não precisam de itálico):

– empoderamento
– telemedicina
– uberização
– vegano
– webinário
– oligossintomático

Há vocábulos que foram provavelmente baseados em outras palavras da língua portuguesa pela junção de duas outras, mas configuram novas palavras mesmo assim:

– femininicídio
– gerontofobia
– gordofobia
– negacionismo
– neurodiversidade

Consulte a seção de Novas Palavras do VOLP aqui: https://www.academia.org.br/nossa-lingua/sobre-novas-palavras

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Muitas vezes quando sugerimos que sejam feitas certas modificações nos artigos científicos, para esclarecer, acrescentar detalhes ou simplesmente tornar a leitura mais fácil, ouvimos esta justificativa de nossos clientes: “Mas todo mundo publica assim”.

Muitos pesquisadores realmente publicam artigos incompletos, difíceis de compreender, cheios de jargão. Às vezes fazem isso para esconder escolhas metodológicas questionáveis, e outras vezes é somente para “seguir a moda”. Temos visto até mesmo orientadores de pós-graduação que sugerem que seus alunos usem linguagem rebuscada e difícil para soar “mais sério”.

Os melhores centros de pesquisa do mundo já acordaram para o fato de que precisam tornar a ciência mais aberta e acessível para todos. “Aberta” significa “aberta ao escrutínio”, transparente. “Acessível” significa, por um lado, escolher publicações que não cobram do leitor pela visualização (“open access”) e, também, em linguagem que não especialistas possam compreender. 

Abaixo estão algumas situações em que pequenas mudanças, fáceis de fazer, têm enorme efeito na visibilidade e consequentemente no uso das publicações em saúde. Temos reiterado essas noções junto a nossos clientes, mesmo enfrentando a velha desculpa do “mas todo mundo faz assim”. Na nossa visão, já passou da hora de iniciar mudanças e tornar o acesso à ciência mais democrático. 

Abreviações e siglas

Um ranço da época em que as publicações científicas eram impressas, e o espaço era milimetricamente limitado faz com que muita gente imagine que economizar algumas letras faz diferença. A realidade atual é que… não. A contagem de limitação de tamanho de texto em artigos e resumos hoje é feita em número de palavras, não de letras. Portanto, abreviar “eritropoietina” como “EP” é só uma maneira de tornar a leitura e a compreensão de um texto mais difícil… porque não ajuda a reduzir a contagem.

Com siglas pode ser um pouco diferente, já que elas de fato podem reduzir um pouquinho o número de palavras. Mas ainda assim, muita confusão pode ser criada por causa da “moda das siglas”. Embora haja alguns termos que são mais conhecidos como siglas (“DNA”) do que pelos nomes reais (ácido desoxiribonucleico), criar novas siglas pode gerar enorme confusão na vida de leitores comuns e autores de revisões sistemáticas. “EPO”, por exemplo, pode significar a substância “eritropoietina” citada acima mas também o gene que codifica a proteína. 

Portanto, recomendamos:

– não crie novas siglas;

– sempre que possível, prefira escrever os nomes por extenso nos textos, mesmo que cite a sigla uma vez para facilitar que os robôs identifiquem seu artigo nas buscas;

– se usar siglas, explicite o extenso pelo menos uma vez no texto ou, melhor ainda, em cada seção. Seu leitor não tem obrigação de saber nem de lembrar ou de interromper a leitura para consultar o significado;

– em resumos, usar a sigla pode “economizar” palavras: ainda assim, é essencial definir no primeiro uso.

Técnicas e métodos

“Não preciso explicar como se faz, esta é uma técnica consagrada”. Esta “desculpa” para não descrever detalhadamente técnicas de análise ou tratamento utilizadas nos artigos não é pertinente. Motivos:

– ainda que existam “técnicas consagradas”, muitas vezes os pesquisadores promovem pequenas mudanças ou melhorias em procedimentos que interferem nos resultados. Se foi utilizada a técnica exatamente como criada e publicada, a referência deve ser citada;

– não são somente especialistas experientes na técnica que vão ler o artigo científico: autores de revisões sistemáticas precisam ter certeza de que a técnica é comparável a de outros trabalhos; gestores também precisam tomar decisão com base nesses detalhes; alunos de graduação e pós-graduação não estão necessariamente habituados aos detalhes; e pacientes e leigos também têm direito à informação a respeito do que está sendo feito com sua saúde e o dinheiro de seus impostos. Convenci?

Como você tratou?

Assim como para técnicas de análise é importante fornecer detalhes, também é crucial descrever minuciosamente como um tratamento foi planejado e oferecido em estudos clínicos. E isto vale para intervenções em saúde de qualquer natureza: medicamentos ou conjunto deles, modificações de posologia ou dosagem, cirurgias, procedimentos fisioterápicos e psicológicos ou intervenções sociais. Em qualquer desses casos, deve-se pressupor que o leitor não tem a menor ideia de como reproduzir o tratamento, portanto precisa de detalhes sobre materiais empregados, clínicos ou outras pessoas envolvidas com a aplicação, e o treinamento que receberam, momentos de tratamento, cegamento do paciente e custo. E tudo isso vale também para os placebos utilizados, que devem ser descritos quanto ao seu formato, aspecto, gosto, cheiro, peso e toda e qualquer característica importante para diferenciá-lo do tratamento em estudo.

Quer saber mais? Veja este roteiro para redação de artigos científicos (“reporting guideline”) dedicado somente a intervenções e placebos, o TIDieR (website em inglês): http://www.tidierguide.org.

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Forneça informações precisas e atualizadas na introdução de seu artigo científico

A introdução de um artigo científico na área de saúde é o local onde se chama a atenção do leitor para o “tamanho do problema”, a sua importância. É comum que se inicie com um dado estatístico sobre a incidência da doença em questão no mundo: números impressionam. Mas é preciso ser cuidadoso com essa redação.

Na intenção de colocar cores mais fortes no problema, podemos, sem querer, fazer afirmações incorretas. Por exemplo: num artigo sobre câncer de pulmão outro dia encontramos uma frase assim: “em 2017, o câncer de pulmão é responsável pelo maior número de mortes no mundo”.

Impressionante, não é? 

Mas errado.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) informa, em 2020 — e os números não mudam há vários anos —, que as doenças cardiovasculares são as que mais matam no mundo: doenças isquémicas do coração, derrames. Em seguida vêm as doenças pulmonares, mas aqui temos em primeiro lugar a doença pulmonar obstrutiva crônica, que não é câncer. Se tomarmos as estatísticas de 2019, o câncer de pulmão, traqueia e brônquios aparece como sexta causa de morte no mundo. 

Ou seja, por mais que seja grave e prevalente, o câncer de pulmão não é responsável pelo maior número de mortes no mundo. O que o autor quis dizer, provavelmente, é que, “dentre os tipos de câncer, o de pulmão é o que tem maior mortalidade”. Esta sim pode ser uma afirmação verdadeira. Uma pequena edição no texto dessa primeira frase traria muito mais precisão à informação.

A introdução pode ser considerada, por muitos, a parte “menos importante” de um artigo e que merece menos dedicação. Não é: esta é a parte que convence o leitor a continuar lendo. E que chama a atenção de usuários nem sempre especializados: estudantes de graduação ou mesmo de ensino médio que podem estar fazendo uma pesquisa escolar… e reproduzindo informações incorretas. 

A introdução precisa ser precisa (com perdão da repetição!). E a citação de referências bibliográficas para apoiar as afirmações precisa ser correta e responsável — mas citação irresponsável é assunto para outro post, em breve!

https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/the-top-10-causes-of-death
https://www.who.int/data/gho/data/themes/mortality-and-global-health-estimates

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Esta pergunta “o que faz um medical writer” aparece geralmente depois desta outra: “qual é a sua profissão?” 

A área de atuação profissional como “medical writer” ainda é bem pouco conhecida no Brasil — tanto que nem uma tradução adequada apareceu até agora. Mas considerando que a publicação científica na área biomédica é feita na língua inglesa, principalmente, isso não surpreende e nem é urgente.

Para quem quer compreender melhor algumas das coisas que um medical writer pode fazer por um pesquisador, uma equipe de pesquisadores, uma instituição de pesquisa ou uma empresa, a primeira observação a fazer é: um medical writer não é um tradutor. O medical writer também faz traduções, mas esse não é o seu negócio principal, ou o principal serviço que pode prestar à comunidade científica. Um medical writer, como o próprio nome diz, é um escritor, um editor de textos, alguém especializado na área científica de saúde, e não somente um tradutor de textos já produzidos por outrem. (E é por isso que o medical writer não compete com o tradutor pelo mercado, nem por preço nem por competência: são áreas diferentes de atuação).

A profissão nasceu principalmente nos Estados Unidos e Europa para apoiar a indústria farmacêutica na redação de documentos regulatórios, ou seja, textos que essas empresas precisam submeter a agências que estabelecem as normas de segurança e aprovação de tecnologias em saúde. No Brasil, por exemplo, temos a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde, além do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). O medical writer conhece todas as regras e meandros das normas e regulações para poder preencher formulários e escrever relatórios claros que resultem em aprovações de produtos. A realização de estudos clínicos pela indústria inicia com o registro dessas iniciativas em bases de dados especializadas, e o medical writer é contratado para auxiliar nesse processo. Sim, fazemos registro de clinical trials.

No entanto, ao longo dos anos, a atuação do medical writer se ampliou bastante. Hoje, esse profissional continua atuando na redação de projetos de estudo, protocolos metodológicos (para comitês de ética, agências de fomento e outras organizações), mas também tem grande participação na redação ou edição de artigos científicos. O medical writer pode trabalhar na redação desses manuscritos, que são submetidos para publicação em revistas científicas, cuidando do formato, clareza da exposição de ideias, qualidade do texto e atenção às normas de cada periódico. Pode, e deve, cuidar de adequar esses textos às melhores diretrizes da área, os roteiros para redação de artigos científicos. E deve ficar atento ao desenvolvimento de novas normas éticas na área de publicações científicas da área biomédica, para melhor orientar e atender seus clientes, impedindo-os de incorrer em alguma falha no atendimento de requisitos.

Além dos artigos científicos para publicação em periódicos, o medical writer também pode ajudar os pesquisadores a montar aulas (slides) mais claras, diretas e bem formatadas para seus alunos e colegas. O medical writer é um profissional de comunicação que vai adequar cada apresentação ao público a que ela se destina. Quando se trata de um congresso médico, por exemplo, o medical writer pode ajudar muito na redação e correção do resumo que é submetido para avaliação. E dentro da academia, também pode auxiliar na revisão de texto de teses e dissertações, sempre cuidando do limite ético de não interferir na criação da peça nestes casos, pois o aluno está sob avaliação.

As empresas e associações ou organizações não governamentais se beneficiam do serviço prestado pelo medical writer quando este profissional participa da concepção, redação e organização de websites, destinados a profissionais ou a pacientes. Uma possibilidade de atuação é a adequação para avaliação em organismos acreditadores como o HonCode ou simplesmente a realização de avaliações de qualidade, usando o DISCERN, por exemplo. Panfletos e outros materiais destinados a pacientes ou membros da comunidade (como cuidadores) e para a imprensa orientando sobre questões de saúde precisam ser claros e adequados ao nível educacional e alfabetismo em saúde da população. O medical writer deve usar de competências como comunicador em ciência para disseminar essas informações corretamente (o que envolve interpretar a ciência corretamente também).

A formação necessária para atuar nessa área envolve alguma atuação em pesquisa na área biomédica: mestrado ou doutorado. A experiência em pesquisa é imprescindível porque o medical writer precisa ser capaz de compreender o raciocínio clínico e o raciocínio científico: da anamnese e exame físico ao diagnóstico e tratamento, da questão em pesquisa à elaboração de hipóteses, metodologia e análise de resultados. Se o editor de texto não tem familiaridade com esses passos e a importância de cada um, não é capaz de identificar falhas, lacunas de informação e mesmo erros que podem impedir a publicação de uma pesquisa. Conhecimento de medicina baseada em evidências também é um diferencial.

O medical writer não é simplesmente um profissional de texto (um “corretor de português” ou “tradutor de inglês”): o texto (com suas regras gramaticais e ortográficas) é um de seus instrumentos de trabalho, apenas um. O medical writer trabalha na construção de textos e outros materiais que exponham de forma correta, clara e concisa o processo e o resultado de uma pesquisa biomédica. Nós da Palavra Impressa não atuamos somente como “tradutores” (e muitas vezes contratamos parceiros para fazer traduções) ou como “revisores de texto”: fazemos um pouquinho mais. 

Nós da Palavra Impressa (principalmente Patricia Logullo) atuamos na área de medical writing no Brasil há mais de 20 anos. Sempre nos preocupamos em nos atualizar e qualificar continuamente e hoje atuamos em Oxford com “meta-pesquisa” (ou pesquisa sobre a qualidade das publicações em saúde) e, a distância, com medical writing para a comunidade do Brasil. Somos membros da Oxford-Brazil EBM Alliance e da EMWA (European Medical Writers Association). Neste blog post anterior, falamos um pouco de um dia típico de trabalho, em que pudemos expor a variedade de coisas que podemos fazer para ajudar você a publicar.

Neste link se pode ler a posição conjunta das associações norte-americana (AMWA) e europeia (EMWA) de medical writers e da Sociedade Internacional de Profissionais em Publicações Médicas (ISMPP) sobre o papel dos medical writers, suas responsabilidades e as dos autores que os contratam.

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A decisão sobre a revista onde vamos publicar nosso estudo na área de saúde deve acontecer cedo no processo da pesquisa, e não quando tudo já estiver pronto e o artigo sendo escrito. Escolher a revista deve, inclusive, ser um processo guiado, entre outras coisas, pelas instruções para autores da revista escolhida. A escolha da revista deve ser feita de comum acordo com todos os co-autores, levando em consideração a visão de todos, numa discussão precoce e aberta. 

A nossa recomendação é de que esta ordem de prioridades pode ser considerada, não importando se é a primeira submissão ou a submissão após uma recusa:

1) Escopo: certifique-se de que o tema de seu trabalho está dentro do escopo da revista (verifique isso na página da revista na internet). É muito comum que os editores recusem o trabalho usando a justificativa de que ele “estava fora do escopo”, e é possível evitar isso tendo certeza a respeito do que a revista quer. Se necessário e caso não fique claro lendo o material publicado pela revista, é possível enviar uma mensagem para o editor ou para a secretaria editorial com o título e o resumo (ou uma breve descrição do trabalho), perguntando se o trabalho se encaixa no escopo. Isso pode ser feito como uma “presubmission inquiry”. A maioria das revistas vai responder.

2) Público: a sua comunidade, a revista que você e seus colegas mais leem, consultam, e onde mais encontram artigos úteis é, provavelmente, a mais adequada para a sua pesquisa. Qual é o público dessa revista? É preciso pensar em quem se quer atingir, em quem precisa ler os resultados do trabalho. Revistas mais especializadas tendem a ter uma audiência menor, mas mais interessada no tema; enquanto revistas mais generalistas têm público muito maior — mas não significa que a visibilidade do artigo específico será grande, se ele for de interesse de uma minoria.

3) Indexação e visibilidade: na área de saúde, é primordial que clínicos, gestores e pacientes tenham acesso ao artigo e aos resultados da pesquisa. E para que eles encontrem o artigo em buscas feitas nas bases de dados, é importante que a revista esteja indexada (em bases como MEDLINE, EMBASE e outras), e que não seja uma revista predatória (ajuda para reconhecer revistas predatórias no site https://thinkchecksubmit.org).

4) Formatação e “word count”: quanto mais rígida a revista em termos de formatação do artigo, mais trabalho isso vai gerar em caso de recusa, situação em que se vai precisar reformatar tudo para outra revista. O tempo disponível deve ser levado em consideração na hora de escolher a revista.

5) APC (article processing charges), ou taxa de open-access: este não deveria ser um critério de escolha de revista num mundo ideal, em que há financiamento para essas taxas. Mas no mundo real, em que muitos pesquisadores precisam pagar a taxa do próprio bolso (ainda que compartilhado por todos os co-autores), o valor da taxa é levado em consideração na hora de escolher a revista. Consultar esses valores antes de iniciar a submissão é uma precaução importante.

Observação: não foi incluído na lista o dito “Fator de Impacto” (FI), calculado pela Clarivate Analytics. O FI não é uma medida de qualidade (nem da revista, nem dos pesquisadores) e não deveria nortear a escolha das revistas onde se quer publicar artigos na área de saúde.

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A Palavra Impressa não é uma empresa de tradução. Se você tem um texto em português que precisa só de tradução (ou se você somente quer a tradução), há muitas empresas no mercado brasileiro competindo para prestar bons serviços a preços baixos. Nós não participamos desta competição. Nós fazemos outra coisa.

Nós somos uma consultoria que trabalha para aprimorar os textos para que eles possam ser melhor publicados, incluindo textos científicos da área de saúde e relatórios da área social. Isso quer dizer que, ao nos entregar o seu texto, ele será revisado, submetido a um olhar muito crítico, que procura identificar todas as oportunidades de melhoria. Isso é feito sob a perspectiva da integridade e das boas condutas em pesquisa, em jornalismo e em ética. 

Nós nos preocupamos em produzir relatórios e artigos que sejam transparentes, íntegros (completos) e éticos. Recebemos treinamento em revisões, pesquisa observacional e clínica, jornalismo investigativo e científico. Nossa experiência em pesquisa nos permite conhecer os desafios da conduta acadêmica e a forma como funciona o raciocínio clínico. Essa visão nos impede de simplesmente traduzir um texto quando ele está incompleto ou tem conclusões não respaldadas por seus métodos e resultados, por exemplo. É por isso que não oferecemos, simplesmente, serviços de tradução — embora possamos editar e até redigir o seu relatório diretamente na língua inglesa ou portuguesa.

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Cada vez mais, as revistas científicas solicitam aos autores que sugiram revisores (“referees”) para avaliarem seus artigos. No momento da submissão do artigo, o autor correspondente precisa indicar dois ou três revisores, suas instituições em contatos. Por que isso acontece? E como selecionar bons revisores?

As revistas científicas têm um número limitado de componentes em seu quadro editorial, e os revisores, na grande maioria dos casos, trabalham voluntariamente. Isso quer dizer que nem sempre as publicações podem contar com os melhores revisores: muitos não concordam em fazer o trabalho por falta de tempo, por exemplo, ou mesmo por falta de conhecimento no campo específico do artigo. Esse é o motivo pelo qual os editores pedem aos autores que indiquem mais revisores: assim, aumenta o leque de possibilidades de se conseguir uma revisão em menor prazo.

O fato de um autor correspondente recomendar dois ou três revisores não significa necessariamente que a revista usará esses nomes. A revista poderá ou não aceitar a sugestão, com base na disponibilidade de seus próprios revisores e no quanto os editores julgam essa recomendação apropriada. Porém, mesmo se a publicação não precisar dos nomes sugeridos pelos autores, será necessário sugerir durante a submissão do manuscrito. Por isso, os autores devem ter consigo uma lista de possíveis revisores para seu artigo antes mesmo de iniciar a submissão eletrônica nas revistas. 

Uma revisão por pares bem feita precisa ser independente, conduzida por alguém não envolvida com o trabalho que está sendo avaliado. Para garantir essa independência e a qualidade da revisão, existem recomendações para a escolha dos revisores (baseadas em diretrizes do COPE, ICMJE, EQUATOR Network e F1000), que podem e devem ser seguidas:

– escolha revisores de instituições diferentes da sua. Assim, diminui a possibilidade de estarem envolvidos de alguma maneira com a pesquisa ou pessoalmente com os autores;

– escolha revisores que tenham conhecimento na área específica da pesquisa: não somente isto provê uma revisão de mais qualidade, mais aprofundada, mas evita que os revisores recusem fazer a revisão por falta de especialização na área, atrasando o processo de revisão e aprovação do seu artigo;

– escolha revisores que não tenham conflitos de interesse com a pesquisa. Por exemplo, envolvidos com a empresa que fabrica um produto que está sendo avaliado;

– escolha revisores de outros países: a visão global, de pontos de vista diferentes, é positiva e enriquecedora para o manuscrito;

discuta com seus co-autores a escolha dos revisores: eles podem ter conhecimento de outros nomes ou de conflitos de interesse sobre os revisores que você pensa em sugerir;

não sugira revisores que tenham sido seus co-autores recentemente. Isso pode indicar um conflito de interesse, e o revisor deve recusar-se a revisar um artigo proveniente de uma pesquisa de que tenha participado ainda que indiretamente.

E, após a submissão do seu artigo, não entre em contato com as pessoas que sugeriu como revisores. Esse comportamento pode ser considerado anti-ético (uma tentativa de intimidar ou pressionar o revisor).