Sete dicas para evitar uma revista open access predatória

Sete dicas para evitar uma revista open access predatória

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Nossos clientes continuam sendo procurados, com frequência, com convites que receberam de revistas para a publicação de artigos. Uma rápida olhada no website dessas revistas mostra que elas não têm indexação (portanto o artigo publicado nela não é rastreável) nem boa visibilidade (justamente por isso), suas publicações são irregulares e escassas e elas estão apenas tentando ganhar dinheiro em cima dos autores cobrando taxas de publicação (de mais de 2 mil dólares por artigo). As revistas que fazem esses convites, na maioria, são justamente as de menor qualidade. E publicar nelas pode ser uma decisão equivocada.

As (boas) revistas open access nasceram de um princípio muito interessante: o direito de se ter acesso, gratuitamente, aos resultados da pesquisa publicada no mundo todo. E realmente muitas boas, importantes e qualificadas revistas open access foram criadas nesse contexto, como a PLOS, por exemplo, considerada uma das melhores do mundo. Existem milhares de bons exemplos de revistas open access, que são de qualidade e têm boa reputação. Estas boas revistas têm sistemas de avaliação por pares bem definidos e organizados e não publicam qualquer coisa. Por isso, seus artigos são bem citados e elas conseguem bons fatores de impacto. Boa parte delas está listada no Diretório de Revistas Open Access https://doaj.org/.

No entanto, como essa modalidade de publicação é financiada pelo autor do artigo, o “open access” transformou-se num filão comercial altamente lucrativo. E começaram a surgir revistas publicadas por instituições que não são exatamente comprometidas com a ética e com a qualidade na publicação científica. Essas editoras não têm pudor algum em publicar artigos que passaram (se é que passaram) por processos de revisão por pares de qualidade muito duvidosa e com falta de padronização e transparência. Elas ganham no volume e enganam muitos pesquisadores, tanto os jovens como os mais experientes, prometendo publicação rápida. Quando publicam. São as chamadas revistas open access predatórias, por realizarem uma “concorrência desleal” com as revistas sérias e de qualidade.

Ao publicar seu artigo numa revista predatória, o autor pode desperdiçar um bom trabalho numa revista que não dá a menor garantia de que vai continuar no ar daqui a alguns meses. As revistas open access chamadas de predatórias têm meia-vida curta, enquanto as de qualidade permanecem, e têm muitos volumes publicados. É recomendado verificar o website de uma revista open access antes de pensar em enviar um artigo para publicação: seu profissionalismo e sistema de revisão por pares ficam transparentes na página oficial. O nome e o currículo do editor-chefe denuncia se a revista tem condições de sustentabilidade. E o endereço oficial deve ser claro e transparente — e não uma cabana no meio da floresta.

Estas são nossas recomendações para evitar jogar um bom artigo científico numa revista predatória:

1) Não aceite convites: se recebeu um convite por e-mail, desconfie. Muito raramente um editor de uma revista internacional de qualidade precisa enviar convites para receber artigos, porque as revistas de qualidade já estão abarrotadas de submissões e conseguem publicar somente uma pequena parte do que recebem. Convites, quando acontecem, são pessoais, e não chegam por meio de mensagens de e-mail coletivas (e sim do editor diretamente ao autor). Se recebeu um convite com apenas parte de seu nome, desconfie, pois você pode ter sido “pescado” por um robô enviando milhares de mensagens iguais, e não por um ser humano. Nunca aceite convites sem examinar a revista primeiro.

2) Indexação: verifique, em primeiro lugar, se a revista está indexada (em bases como o PubMed, Embase, LILACS, ISI). Não desperdice esforços publicando em revistas não indexadas. Se necessário, peça ajuda a um bibliotecário, numa biblioteca pública. Não custa nada.

3) Coleção da revista: verifique quantos volumes e fascículos a revista já publicou, e se publicou um número considerável de artigos em cada um. Revistas novas não são indexadas, porque é necessário atingir um certo número de publicações, com regularidade e adequado processo de revisão por pares para se conseguir uma boa indexação. Uma revista com três ou quatro artigos publicados em toda a sua história não atingiu, certamente, um nível de qualidade mínimo e nem regularidade na publicação. Provavelmente não é indexada e não vai conseguir indexação no futuro.

4) Editores: quem são o editor-chefe e os membros do Conselho Editorial? São autoridades na área? Têm eles boas publicações? A reputação da revista está em grande parte baseada no trabalho dos editores. Cuidado também com revistas que usam nomes “parecidos” com os de grandes editoras, como “Spring” (parecida com a editora Springer).

5) Apoio: a revista tem respaldo ou apoio de uma sociedade científica reconhecida? A falta de apoio pode revelar, por um lado, independência, mas por outro pode denunciar falta de reputação. O apoio de uma sociedade ou associação é um ponto positivo.

6) Qualidade do website: páginas com “ar caseiro”, simples, mal organizadas ou com jeito de que foram produzidas sem apoio profissional denunciam revistas que não têm infraestrutura suficiente para serem sustentáveis.

7) DOAJ, o Diretório de Revistas Open Access: consulte! Esse diretório traz uma lista de “boas” revistas open access: https://doaj.org/. A presença na lista produzida pela DOAJ, uma organização social sem fins lucrativos, é um bom sinal de qualidade da publicação. O DOAJ, quando suspeita de falhas de conduta das revistas, teoricamente remove essas publicações de sua lista.

Patricia Logullo
Patricia Logullo é doutora e meta-pesquisadora no Centre for Statistics in Medicine (CSM) na University of Oxford, Reino Unido e medical writer certificada pela International Society of Medical Publication Professionals (ISMPP). Além do Doutorado em Saúde Baseada em Evidências (pela UNIFESP), também é mestre em Ciências da Saúde (pela FMUSP) e Jornalista Científica (pela UNICAMP).

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