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Patricia Logullo

Patricia Logullo
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Patricia Logullo é doutora e meta-pesquisadora no Centre for Statistics in Medicine (CSM) na University of Oxford, Reino Unido e medical writer certificada pela International Society of Medical Publication Professionals (ISMPP). Além do Doutorado em Saúde Baseada em Evidências (pela UNIFESP), também é mestre em Ciências da Saúde (pela FMUSP) e Jornalista Científica (pela UNICAMP).

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Temos alertado frequentemente nossos clientes a respeito do uso da palavra “randomizado” nos artigos. Temos notado que muitos confundem a randomização para tratamento com a seleção para entrada no estudo.

É muito importante descrever corretamente o método de recrutamento dos sujeitos para uma pesquisa: onde e como foram selecionados para entrada no estudo? Na tentativa de mostrar que seus estudos são éticos, livres de viés, muitos autores simplesmente adicionam que a seleção foi “randomizada”. Porém nem sempre eles compreendem corretamente o significado disso.

Randomizar, em estudos clínicos, significa sortear, utilizando um método confiável para isso, seja a colocação dos prontuários em envelopes selados e numerados (opacos), seja a geração de números randômicos por computador, seja o velho e bom sorteio de números em recortes de papel. Seja qual for o método, randomizar significa sortear aleatoriamente, sem interferência humana. E esse sorteio de qual terapia será administrada é feito depois da inclusão do paciente no estudo: não tem a ver com o recrutamento inicial, com a inclusão do sujeito na pesquisa.

Ao recrutar todos os pacientes atendidos consecutivamente num dado período num serviço, garante-se que nenhum paciente que pudesse, pelo olhar do pesquisador, não ter bons resultados com o tratamento, fique fora do estudo. Ou seja, ao usar a fórmula “incluir todos os pacientes consecutivos”, elimina-se o viés de seleção do pesquisador no momento da entrada no estudo. Mas isso não é, de forma alguma, randomizar. Essa seleção inicial não foi aleatória, foi baseada em critérios pré-determinados de inclusão. “Randomização” não é uma palavra bonita que dê status ao artigo: é um método científico de alocação de pacientes num ou noutro grupo de tratamento. E que nem sempre precisa ser usado para que o trabalho tenha qualidade.

Em tempo: as melhores revistas científicas internacionais já estão exigindo que o método de randomização (ou seja, de determinação de qual tratamento o paciente vai receber) seja criteriosamente descrito. Não basta mais dizer que “foi randomizado”. É preciso explicar como foi randomizado.

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Talvez os clientes não se deem conta de uma importante característica de nosso trabalho: a supervisão da tradução. Escolher um bom tradutor, avaliar seu trabalho, testar e contratar são passos importantes na edição de um artigo científico originalmente redigido em português. Depois disso, muitas vezes enfrentamos certos problemas que os clientes nem sempre têm tempo ou disposição para resolver, como por exemplo a discussão, com editores dos journals e com tradutores, sobre termos e frases.

Já tivemos um mesmo texto revisado de maneira diferente por dois tradutores: o que um considera como “satisfatório”, outro profissional nos devolve com sugestões muito úteis de alteração das frases que tornam o texto mais claro, mais conciso, mais direto ou até mais simpático. Eu tenho ultimamente desconfiado dos tradutores/English reviewers que são muito “tolerantes”. Prefiro que eles mexam bastante nos textos, pois as suas interferências geralmente são úteis. E, quando eu julgo que não são, elimino-as individualmente. 

Isso significa examinar cada uma das alterações e correções feitas pelo tradutor, para aceitá-las ou questioná-las com o profissional. “Na frase tal você alterou isto, por que?” Raramente é necessário consultar o cliente nesses casos. Essa avaliação, essa leitura crítica, toma um tempo que muitas vezes o cliente não pode ou não quer dispender nisso. 

Essa supervisão é necessária, pois de vez em quando encontramos problemas com as traduções ou revisões de textos em inglês: e estamos falando de profissionais brasileiros e também de profissionais de empresas norte-americanas, britânicas etc. Já houve casos de proofreaders americanos que alteraram a grafia de termos técnicos em manuscrito sobre cirurgia, com isso modificando o instrumento cirúrgico que estava sendo usado. A alteração obviamente não foi autorizada. É importante que o tradutor não apenas esteja familiarizado com termos técnicos da área científica em geral, como, principalmente, acima de tudo, tenha respeito pelo original. 

Se alguns pecam pelo excesso, outros podem pecar pela falta: nós passamos a desconfiar de textos revisados por tradutores que contenham uma quantidade muito pequena de correções: se enviamos o texto para revisão é porque sabemos que ele pode ser melhorado. Que assim seja, então! O profissional deve, nesse caso, “colocar a mão”, alterar as frases para que fiquem mais claras, e ser vigilante e crítico. A timidez, neste caso, pode resultar em uma devolução, por parte da revista, com a queixa “poor English”. Poor author. 

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Começamos 2011 muito entusiasmados com a publicação de nosso novo site. Fizemos não só uma renovação do visual, mas também de todo o conteúdo, e criamos esta seção, que vai proporcionar mais interação com os nossos clientes.

Esta página vai divulgar, em 2011, não apenas os trabalhos que estão em andamento, mas os nossos pensamentos a respeito deles: ao publicar portfolios na internet ou enviar currículos para os clientes, nem sempre eles podem ter noção de como pensamos a respeito das dificuldades que enfrentamos e das soluções que damos aos problemas no dia a dia. 

Convidamos todos a opinar, escrever para nós, abrir debates sobre edição de texto, publicações científicas e da área social e novas oportunidades de atuação. Conheçam nosso trabalho e a opinião de nossos clientes no link Empresa do site e envie seu palpite!

 

Bom ano para todos!

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Trabalhamos muito em 2010. O ano ainda nem acabou, e ainda temos bastante o que fazer.

Editamos livros (dois para a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, dois para a Fundação Instituto de Administração, lançados pela Atlas). Revisamos capítulos de livros para a Editora Manole. Produzimos sites (este inclusive), ajudando nossos clientes a se comunicarem com os clientes deles. Produzimos atividades lúdicas e educativas (chamamos de “desafios”) para estudantes do Colégio Ítaca. Continuamos, como fazemos há 10 anos, a editar as duas revistas científicas da Associação Paulista de Medicina (APM), a Diagnóstico & Tratamento e a São Paulo Medical Journal. Preparamos textos que ajudaram a convencer julgadores sobre a qualidade dos projetos sociais desenvolvidos pela Fundação Itaú Social e o Banco Itaú.

Preparamos muitos textos científicos para publicação em revistas biomédicas, auxiliando pesquisadores a encontrar um lugar certo para seus resultados, tornando-os disponíveis para toda a comunidade que produz ciência (e dela se alimenta). Atendemos esses clientes em todas as etapas da produção científica: a coleta dos dados e sua interpretação, a redação dos artigos, a revisão ou edição de textos produzidos por eles, a tradução ou supervisão da tradução. Orientamos residentes da Santa Casa de São Paulo, Pavilhão Fernandinho Simonsen, sobre como planejar suas pesquisas e redigir seus artigos científicos, a começar pela pesquisa bibliográfica. Intermediamos a relação dos pesquisadores com as revistas científicas, auxiliando na argumentação, na formulação de respostas a questionamentos e facilitando a comunicação com os editores. Administramos o fluxo de produção dos clientes que têm muitos trabalhos em andamento ao mesmo tempo (como do Departamento de Hematologia do Hospital Albert Einstein). Ajudamos também alguns a redigirem e revisamos suas monografias de conclusão de cursos de especialização, suas dissertações de mestrado e suas teses de doutorado. Produzimos diapositivos para apresentarem aulas nessas defesas de tese e em congressos. Ah, sim!: também produzimos pôsteres (conteúdo e parte gráfica) para apresentação em reuniões científicas.

Nesse período, passaram por nossas mãos materiais sobre medicina (ortopedia, hematologia, psiquiatria, sexologia, dermatologia, patologia, cirurgia geral, urologia, mastologia), psicologia, sociologia, economia, administração, tecnologia da informação e até aviação. Tivemos a honra de ler esses excelentes trabalhos, aprender com eles, e ajudar a torná-los um pouco melhores, ou mais bonitos, ou mais fáceis de compreender. E ainda temos muito o que fazer: ainda há artigos para editar e publicar, textos para publicar em sites, serviços a finalizar e outros para começar. A Palavra Impressa não para.

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75 anos da SBOT: A Palavra impressa acaba de lançar “75 anos da SBOT: registro histórico”: uma obra completa sobre a história da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, em meio impresso e eletrônico.

O trabalho consumiu alguns meses de muita pesquisa, leitura de documentos muito antigos, manuscritos e datilografados, e uma “costura” das informações dispostas de maneira esparsa: agora, fazendo sentido. Completou esse trabalho otestemunho de alguns ortopedistas mais idosos e também daqueles, ainda ativos, que promoveram algumas das maiores conquistas da SBOT. 

A Palavra Impressa cuidou da pesquisa, edição do texto final, diagramação, tudo sob a orientação e coordenação dos autores, Fernando Baldy dos Reis e Marcelo Tomanik Mercadante, que fazem parte da diretoria da SBOT. O trabalho foi possível devido ao comprometimento da SBOT com a preservação da própria história: em 2008 a editora cuidou da publicação de 40 Congressos: Registro Histórico dos CBOTs de 1936 a 2008. O novo trabalho, em 2010, foi um desafio, pois foi preciso reconstruir a história da SBOT não sob o ponto de vista dos eventos científicos que ela sempre promoveu, desde a sua fundação, mas agora fazendo uma síntese de seus 75 anos de história com outros enfoques: suas atividades educativas, científicas e de defesa profissional do ortopedista. É realmente muita história para contar, e a equipe da Palavra Impressa está sempre pronta para esse tipo de missão.

 

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A Palavra Impressa auxilia empresas e organizações não governamentais a conseguirem reconhecimento por suas iniciativas sociais e em negócios. Inscrever projetos em prêmios, nacionais e internacionais, exige uma argumentação bem fundamentada, consistente e de leitura agradável, própria para agradar e convencer os mais exigentes árbitros. 

Em 2009 e 2010, esse trabalho resultou em alguns importantes resultados para o Itaú Unibanco e para a Fundação Itaú Social. O projeto tecnológico de TI Verde do Itaú Unibanco ⎯, que resultou em enorme economia de energia e de aproveitamento de 98% do lixo eletrônico pelo maior banco privado do país ⎯ venceu o Prêmio Green Enterprise IT Awards, do Ethical Corporation Awards, na categoria Joint IT and Facilities Innovation. A iniciativa é inovadora: o banco reuniu os departamentos de TI e de infra-estrutura sob o mesmo conselho de direção, com missão, objetivos e responsabilidades compartilhadas. Mantendo 100% de eficiência e disponibilidade dos serviços eletrônicos, o programa resultou em significativa economia de energia e redução de custos anualmente. O texto para inscrição no prêmio foi redigido em inglês. 

Em dezembro de 2009, a Fundação Itaú Social venceu o Ethical Corporation Awards 2010, Corporate Citizen of the Americas com O Melhor Programa para as Américas: Olimpíada de Língua Portuguesa. A premiação é concedida pela Fundação para as Américas, órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA), a instituições privadas que desenvolvem ações de combate à pobreza no continente. A edição de 2009 avaliou 50 programas de responsabilidade social corporativa de 44 empresas com atuação nas Américas, entre elas o do Itaú, cujo texto para inscrição foi produzido pela Palavra Impressa. Os projetos foram analisados por um comitê de especialistas internacionais e representantes do setor privado, além do secretário-geral assistente da OEA.

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Artigos open access são manuscritos acadêmicos disponíveis para consulta gratuita na internet, em sua versão completa (não apenas o resumo). Não há cobrança dos leitores, e há respeito à preservação do direito autoral de quem publicou.

A difusão do conteúdo das obras científicas é necessária para o progresso da ciência e, no caso da medicina, para melhorar a saúde das populações. É por meio do acesso às evidências científicas, ao que está sendo publicado internacionalmente em revistas revisadas por pares, que pesquisadores locais podem aprimorar suas investigações e prover o melhor cuidado aos pacientes. O problema é que nem sempre se tem acesso às publicações que trazem essas evidências.

Num passado recente, em que não havia acesso à internet, “estar por dentro” significava frequentar congressos, assinar revistas científicas internacionais (e pagar caro por isso) ou ter contato direto com pesquisadores nacionais ou estrangeiros. O advento da internet facilitou o acesso aos resumos dos trabalhos publicados pelas melhores revistas, que estão indexadas. No entanto, o acesso aos artigos completos ainda era prejudicado, e nem todas os detalhes metodológicos, de resultados e sua discussão podem ser dispostos nos resumos (abstracts). Ou seja, há sempre uma enorme demanda, por parte dos leitores, pela leitura dos artigos completos.

A divulgação dos resultados das pesquisas também interessa aos autores: eles não publicam por dinheiro, posto que geralmente as editoras das revistas não pagam a eles pelas publicações. Esses pesquisadores são pagos pelas universidades e pelos financiamentos à pesquisa que obtiveram para cada trabalho. Os artigos são o relatório dos resultados dessas pesquisas. Eles publicam para terem seus achados divulgados para o maior número possível de pessoas no mundo, fomentando o intercâmbio. No entanto, as grandes editoras de revistas biomédicas ainda têm nas assinaturas das revistas sua principal receita. Portanto, abrir os artigos completos para consulta gratuita pode significar um “tiro no pé” financeiramente.

O movimento do open access foi criado na década de 1990 para prover acesso mundial aos periódicos científicos/acadêmicos gratuitamente, aumentando sua visibilidade, uso e impacto. A solução financeira para o desafio de publicar sem cobrar (nem pelo acesso nem pela assinatura) é cobrir as despesas com diversas alternativas, muitas delas bem criativas: fundos de financiamento de agências de pesquisa, governos e outras instituições, além das próprias universidades e laboratórios que empregam os pesquisadores e que têm suas próprias revistas on line. O dinheiro também pode vir de pessoas ou instituições amigáveis à ideia, como a Fundação George Soros. Algumas editoras têm também oferecido a possibilidade de abrir certos artigos ao público gratuitamente, mas cobram dos autores uma taxa (frequentemente de mais de mil euros) para isso.

É estimado que apenas 20% dos artigos científicos publicados todo ano estão disponíveis gratuitamente (por open access). Alguns estudos já provaram que o sistema open access aumenta o impacto (ou seja, o número de citações, não apenas a visibilidade do estudo) muito substancialmente, seja na comparação entre revistas abertas versus não abertas, seja comparando-se artigos não abertos versus aqueles cujos autores pagaram para que se tornassem abertos após a publicação. Embora as análises tenham sido feitas em áreas como computação, astronomia e física, ao menos teoricamente podem ser transpostas para a área de medicina.

Para os pesquisadores do Pavilhão, vale lembrar a melhor lógica na escolha das revistas para publicar seus artigos: 

– escolher sempre revistas indexadas, que têm maior qualidade e maior visibilidade;

– escolher as revistas com melhor classificação CAPES (geralmente indexadas);

– dentre as indexadas e com bom CAPES, escolher revistas que são open access ou que pelo menos possibilitam a abertura de artigos específicos mediante pagamento do autor: pode sair caro em termos financeiros, mas muito proveitoso em termos de número de citações do artigo (impacto).

 

Para ler mais:

Movimento Acesso Aberto Brasil. Disponível em: http://www.acessoaberto.org/. Acessado em 2010 (30 mar).

Citation Impact of Open Access Articles vs. Articles available only through subscription (“Toll-Access”). Disponível em: http://www.citebase.org/static/isi_study/. Acessado em 2010 (30 mar).

Budapest Open Access Initiative. Disponível em: http://www.soros.org/openaccess/read.shtml. Acessado em 2010 (30 mar).

Timeline of the Open Access Movement. Disponível em: http://www.earlham.edu/%7Epeters/fos/timeline.htm. Acessado em 2010 (30 mar).

Nature. Webdebates. Free online availability substantially increases a paper’s impact. Disponível em: http://www.nature.com/nature/debates/e-access/Articles/lawrence.html. Acessado em 2010 (30 mar).

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Neste segundo texto sobre a escolha das revistas científicas para onde devemos enviar nossos textos para publicação, vamos falar sobre o fator de impacto, um dos norteadores de nossa decisão. Depois do escopo do trabalho e da revista e da indexação e da classificação Qualis, podemos olhar para o fator de impacto como um critério a ser levado em consideração na escolha.

A visibilidade do artigo científico que desejamos publicar depende não apenas da qualidade do trabalho em si, mas também da visibilidade da revista. Não adianta enterrar um artigo excelente numa revista de menor abrangência ou que é menos lida. (Da mesma maneira como não se consegue colocar um artigo mediano ou fraco em termos de evidência científica numa revista de maior impacto).

O fator de impacto (FI) é a medida do número médio de citações, num dado ano, àqueles artigos de uma revista publicados nos dois anos precedentes.

 

FI 2007 da revista “X” =
 
citações, em 2009, em outras revistas, a
artigos publicados na revista “X”
em 2007 e 2008
 
 
número de textos “citáveis”
publicados na revista “X”
em 2007 e 2008

 

Ou seja, têm maior fator de impacto os periódicos cujos textos são mais citados por outros. Uma revista na qual cada artigo publicado seja, em média, citado uma vez tem FI = 1.

Ressalte-se aqui que não se trata de visualização ou leitura: não se está medindo quantas vezes um artigo foi lido com o fator de impacto, mas quantas vezes ele foi citado por outros cientistas em outros artigos. Por estar baseado em citação, e não em leitura, o fator de impacto é frequentemente usado como um proxy (uma medida indireta, um indicador) da importância da revista em seu campo ou de sua qualidade — embora isso já tenha sido criticado. Também não se fala em fator de impacto de um artigo: fator de impacto é uma medida que se aplica à revista como um todo, levando em conta a média de citações dos artigos publicados por ela em um ano. Assim, publicar em uma revista de elevado fator de impacto não é garantia de citação de um artigo.

Essa tão conhecida medida “fator de impacto” foi criada, há 50 anos, pelo Institute for Scientific Information (ISI), hoje pertencente à empresa Thomson Reuters. O cálculo é um “produto” dessa empresa. Apenas as revistas que têm indexação ISI (ou seja, que cumpriram as determinações para serem indexadas nessa base de dados) têm fator de impacto oficial calculado (e divulgado após três anos do início da indexação). Anualmente, a Thomson divulga o fator de impacto das revistas indexadas no ISI no Journal Citation Report (JCR): as instituições que têm acesso a essa base de dados podem consultar a listagem de fatores de impacto (o serviço não é gratuito). Algumas revistas publicam, em seus sites na internet, seus fatores de impacto calculado no ano precedente, como uma maneira de demonstrar seus bons resultados e atrair mais colaborações.

Embora largamente utilizado para diversos fins, o “fator de impacto” da Thomson Reuters não está livre de críticas. Além das puramente matemáticas, a principal argumentação contra o fator de impacto vem dos próprios editores de revistas científicas, que afirmam que ele não é uma medida objetiva de qualidade editorial:

– não está claro quais tipos de artigo entram na fórmula acima, ou seja, se editoriais, erratas, cartas ao editor não contam, mesmo se forem bastante citadas, então essas citações não “empurram” o fator de impacto da revista para cima ou para baixo. Por outro lado, artigos de revisão são sempre citados muitas vezes, e são levados em consideração na fórmula… portanto, publicar mais artigos de revisão, e menos pesquisa original, faz subir “artificialmente” o fator de impacto de uma revista.

– o fator de impacto demonstraria a popularidade, o prestígio da revista, mas não necessariamente a qualidade científica dos artigos publicados nela. Para que se pudesse inferir qualidade a partir do fator de impacto, ter-se-ia que partir do princípio de que apenas os melhores artigos são citados, o que não é verdade: quantas vezes não citamos artigos justamente como crítica à sua metodologia?

– por considerar apenas os dois anos precedentes, o fator de impacto não seria uma medida de popularidade da revista, mas uma medida da “rapidez de reação” à publicação de certos artigos. Se por qualquer motivo uma revista demorar a chegar às mãos daqueles que se interessam pelos artigos e os citam, o fator de impacto dela diminui, porque essas citações não entram na fórmula (por terem ido além da janela de tempo). De outro lado, artigos clássicos são citados por décadas a fio, o que deveria aumentar o fator de impacto da revista que os publicou… mas não aumenta.

– auto-citação: muitas das citações a artigos publicados em revistas de baixo fator de impacto são feitas por seus próprios autores. Neste caso, o fator de impacto não é influenciado pelo prestígio daquele pesquisador entre seus pares…

Embora o fator de impacto esteja sendo cada vez mais utilizado para medir a reputação dos cientistas — mais do que a reputação das revistas, como originalmente imaginado —, no nosso meio ainda prevalece a procura pelas revistas baseada primeiro no escopo e na indexação, em segundo lugar, na classificação Qualis, e apenas por último no fator de impacto. Isso porque, para o Pavilhão Fernandinho Simonsen, o fator de impacto, com perdão do trocadilho, não terá impacto na valorização dos docentes pesquisadores, enquanto a classificação Qualis, da Capes, é um marcador direto, atualmente, da produção científica interna. Precisamos publicar nas revistas Qualis A e B1 a B3.

Em tempo: além do ” impact factor ” calculado pela Thomson Reuters para as revistas indexadas no ISI, outros “fatores de impacto” vêm sendo criados e calculados, alguns dentro de outras bases de dados. Por exemplo, a base SciELO tem um cálculo de impacto interno. A Revista Brasileira de Ortopedia tem um fator de impacto-SciELO de 0,0309 em 2009, e a Acta Ortopedica Brasileira, de 0,0169. Breve teremos também o fator de impacto JCR da Acta, que acabou de conseguir sua indexação junto à base ISI.

 

Para ler mais:

Thomson Reuters. Science assays. Disponível em: http://thomsonreuters.com/products_services/science/free/essays/. Acessado em 2009 (23 junho).

Thomson Reuters. The Thomson Reuters impact factor. Disponível em: http://thomsonreuters.com/products_services/science/free/essays/impact_factor/. Acessado em 2009 (23 junho).

Thomson Reuters. Using the Thomson Reuters impact factor. Disponível em: http://thomsonreuters.com/products_services/science/free/essays/using_impact_factor/. Acessado em 2009 (23 junho).

European Association of Science Editors. EASE statement on inappropriate use of impact factors. Disponível em: http://www.ease.org.uk/artman2/uploads/1/

EASE_statement_IFs_final.pdf. Acessado em 2009 (23 junho).

SciELO. Impact factor in a two-year basis. Disponível em: http://statbiblio.scielo.br/stat_biblio/index.php?state=05&server_action=%2Fcgi-bin%2Fstat_biblio%2Fxml%2Fscielo1_2.sh〈=pt&YNG%5B%5D=2009&CITED%5B%5D=ACTA+ORTOPEDICA+BRASILEIRA. Acessado em 2009 (23 junho).

 

 

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A escolha de uma revista para onde enviar um trabalho científico é baseada em diversos princípios. O primeiro deles certamente é o escopo do trabalho e da revista. O segundo é a visibilidade da publicação: onde é que meu artigo será mais vezes lido e mais vezes citado?

Um artigo será mais vezes lido e mais vezes citado se estiver publicado em revista de melhor qualidade, justamente as mais consultadas. E quem avalia a qualidade das revistas? Quais os critérios de avaliação?

Periódicos científicos são agrupados ou listados em indexes médicos. O mais tradicional, o Index Medicus, convertido no conhecido Medline, reúne revistas biomédicas (cuja audiência é composta de profissionais de saúde). Seu comitê de seleção de periódicos reúne-se três vezes ao ano para avaliar aproximadamente 140 novas revistas e reavaliar as já indexadas, levando em consideração: o mérito científico (validade, importância, originalidade, contribuição para o campo), os critérios de aceitação de artigos dessas revistas (devem ter revisão por pares, princípios éticos bem esclarecidos), além de periodicidade, formato de publicação e outros.

Da mesma maneira trabalham outras bases “indexadoras”, como os latino-americanos Lilacs e SciELO (que dá acesso a textos completos gratuitamente), o ISI e outras. Todas elas, no entanto, são montadas sob a égide de critérios objetivos e bem descritos de seleção de periódicos, ou seja, revistas que não conseguem coletar artigos suficientes para manter sua periodicidade ao longo do ano (para que a informação efetivamente chegue aos seus leitores), revistas que não cuidam da qualidade de seus manuscritos ou que não têm critérios e sistemas bem definidos de avaliação, revistas sem revisão por pares ou que publiquem textos que não contribuam para o conhecimento científico já estabelecido simplesmente não conseguem indexação. Ser indexada é, portanto, sinal de qualidade de uma revista científica.

Partindo do princípio de que revistas indexadas cuidam de sua periodicidade e comprovam sua distribuição, um artigo publicado em revista indexada terá, naturalmente, mais visibilidade que outro, publicado em revista não-indexada. Quanto maior o número de bases onde cada publicação está indexada, maior a possibilidade de se recuperar artigos por meio das pesquisas nesses indexes (e portanto maior a visibilidade). Há um outro motivo importante para se optar, no Pavilhão Fernandinho Simonsen, por publicar em revistas indexadas: a classificação das revistas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

A Capes avalia os programas de pós-graduação que devem continuar a ter permissão do Ministério da Educação para funcionar; e o faz com base em diversos critérios. Um deles é a produção intelectual dos docentes coordenadores dos programas. O sistema Qualis de avaliação de periódicos científicos classifica as revistas em categorias A1, A2, B1 a B5, além de C (nulo), conforme a qualidade das revistas. Essa “indexação Qualis” baseia-se em parte na indexação dos periódicos: os que não estão no Medline, Lilacs ou SciELO dificilmente levam classificação acima de C. Assim, devemos dar prioridade não apenas para as revistas indexadas (em qualquer base) como também atentar para a classificação Qualis dessas publicações, priorizando as que possuem nota A ou B na hora de escolher os periódicos para os quais vamos submeter um artigo.

 

Para ler mais:

Brasil. Ministério da educação. Avaliação da pós-graduação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Disponível em: http://www.capes.gov.br/avaliacao/avaliacao-da-pos-graduacao. Acessado em: 2009 (20 mai).

Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Critérios de Avaliação Trienal. Triênio Avaliado 2004-2007. Área de Avaliação: Grande área Ciências da Saúde (Medicina I, Medicina II, Medicina III, Odontologia, Farmácia, Enfermagem, Educação Fisíca, Saúde Coletiva). Disponível em: http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/CA2007_CienciasSaude.pdf. Acessado em 2009 (20 mai).

Brasil. Ministério da educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Qualis. Disponível em: http://www.capes.gov.br/avaliacao/qualis. Acessado em 2009 (20 mai).

Ministério da Educação (MEC). Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. (CAPES). Diretoria de Avaliação (DAV). Reestruturação do Qualis. Disponível em: http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/Restruturacao_Qualis.pdf. Acessado em 2009 (20 mai).

United States. National Library of Medicine. National Institutes of Health. Disponível em: http://www.nlm.nih.gov/pubs/factsheets/jsel.html. Acessado em 2009 (20 mai).

Literatura Latino-Americana e do Caribe em Saúde. LILACS. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/palestras/base_lilacs.pdf. Acessado em 2009 (20 mai).

 

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Cientistas geralmente não recebem treinamento formal a respeito de como comunicar adequadamente seus resultados de pesquisa. Só recebem algum tipo de orientação de seus supervisores de mestrado ou doutorado, que podem ter… ou podem não ter essas habilidades. O resultado é que boa parte dos trabalhos submetidos para publicação nas grandes editoras de revistas científicas é composta de artigos longos demais, com clareza de menos e difíceis de classificar por assunto. Artigos que são devolvidos antes mesmo que os editores tenham paciência de lê-los. A melhor maneira de escrever um bom relatório científico é… começar direito. Pelo título.

Bom hábito é, realmente, começar pelo título. Muitos costumam escrever o título de um artigo por último, quando já redigiram todo o texto. Má estratégia. O título de um artigo tem duas principais funções: atrair a atenção dos leitores e ajudar na busca e na indexação do trabalho. Ora, se ao iniciar a redação de um artigo o pesquisador ainda não sabe sobre o que vai falar, é bem provável que o texto saia prolixo, fugindo ao tema, e que não mostre suas conclusões ou principais achados com clareza. Por outro lado, se redige o título inicialmente, tem mais chances de ater-se ao tema, de lembrar-se de relatar o principal achado e de deixar claro qual a utilidade daquele trabalho para o público.

Mesmo durante a realização da pesquisa científica, é um bom exercício pensar sobre qual seria o título do artigo ou dos artigos resultantes. Na hora de realmente começar a redigir o manuscrito, a primeira coisa a ser preparada, e cuidadosamente, é o título — mesmo que ele sofra alterações até a finalização do trabalho — pois ele pode ser a única coisa que os editores, os revisores das revistas e, finalmente, os leitores, vão ler. Esta é a regra número 1 da redação de títulos: redigi-los primeiro . Se desejamos chamar a atenção dos leitores que interessam e descartar os demais, é preciso fisgá-los na primeira oportunidade: o título.

Regra número 2 : concisão. Evitar palavras ou expressões desnecessárias, como “um estudo sobre” (está claro que é um estudo “sobre” algo, deve-se, ao contrário, dizer diretamente sobre o que é). Evitar títulos longos: quando ele está comprido demais, é sinal de que está muito generalizado ou muito específico. Se, ao redigir um título, ele ocupar várias linhas da página, esse é um mau sinal. É preciso tentar condensá-lo ao máximo. Muitas revistas atualmente limitam o número de caracteres ou de palavras do título, numa tentativa de facilitar a solução desse problema. Atenção às instruções para autores. Elas frequentemente nos ajudam a escrever melhor.

Regra número 3 : ação. Se o título contém uma ação, um verbo, de preferência conjugado na voz ativa, há enormes chances de chamar a atenção do leitor. “Tramadol no alívio da dor pós-operatória” é um título vago, que não revela o resultado do trabalho. “Tramadol alivia a dor no pós-operatório” conta-nos a história de um medicamento que foi testado, numa situação específica (o momento do pós-operatório) e que funcionou (aliviou a dor). “Fisioterapia na correção da cifose pós-traumática” nada nos diz sobre o que aconteceu com esses pacientes. “Fisioterapia não corrige a cifose pós-traumática” é muito mais informativo.

Regra número 4 : palavras-chave. Artigos são indexados por palavras-chave, mas a procura por eles em sites de busca na internet (incluindo as bases de dados científicas indexadas, como o Pubmed) varre não apenas as palavras-chave que foram escolhidas pelo autor, mas também, e principalmente, título e abstract. Em primeiro lugar. Assim, deve-se pensar em certas palavras-chave, arroladas nas listas Mesh e Decs*, que devem estar obrigatoriamente no título para chamar a atenção de pessoas que, como o redator do artigo, se interessariam por ele. Geralmente, o nome da intervenção (nova técnica, novo equipamento etc., conforme listados), o nome da afecção que está sendo tratada (exatamente como a lista Mesh) ou a população estudada (“adolescentes”, “idosos” etc.) mostram a que vem o texto.

(*As listas Mesh e Decs são vocabulários controlados para indexação de trabalhos científicos em periódicos médicos. São listas oficiais de termos que se deve usar como palavras-chave para indexar artigos. A Mesh pode ser consultada em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/mesh?itool=sidebar, e a Decs em http://decs.bvs.br/)

Sugestão: além de cumprir as regras acima, se seu trabalho é um estudo clínico randomizado ( randomized clinical trial , RCT), uma revisão sistemática ou uma metanálise, chame a atenção para isto no título. Estes são os desenhos de estudo de melhor evidência científica em medicina, e a simples inclusão dessas expressões no título (isso fica fácil após a adição de dois pontos) pode ajudar o leitor a encontrar o que mais interessa em sua pesquisa bibliográfica. (De outro lado, evite dizer “Relato de um caso de fratura do crânio em recém-nascido…”, preferindo simplesmente “Caso de fratura do crânio em recém-nascido…”; ou “Relato de série de casos de artroscopia em…”, preferindo “Artroscopia em…”).